Relato de caso clínico
A mãe de uma criança de 4 anos, sexo masculino, em consulta na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de sua cidade, relata que o filho apresenta um quadro de diarreia há 5 semanas, que inicialmente eram esporádicas, com poucas cólicas, mas que nas duas últimas semanas, o número e frequência de evacuações têm aumentado. Relata ainda que o filho vem reclamando com mais frequência de dor abdominal, que as últimas evacuações vêm apresentando muco e sangue nas fezes e na noite anterior apresentou febre de 38,5 ºC, náusea e vômito. A mãe informa não ter realizado nenhum tratamento medicamentoso, apenas com uso de soro caseiro e leite fermentado para os episódios de diarreia.
Ao exame clínico a criança apresentava-se prostrada, levemente febril (37,8ºC) e com dor à palpação no hipocôndrio direito. Exames de sangue, urina e parasitológico de fezes foram solicitados. Exame de urina normal, parasitológico de fezes (método de sedimentação espontânea) negativo para protozoários ou helmintos, porém com presença de muco e filetes de sangue. O hemograma mostrou aumento de leucócitos, com elevação dos eosinófilos, transaminases hepáticas (TGO/TGP) alteradas em 5 vezes acima da normalidade, bilirrubina e gama glutamil transferase (gama GT) dentro da normalidade.
A partir do resultado dos exames, o médico questiona a mãe a respeito dos hábitos da criança, como brincar na terra ou água, moradia, consumo de água filtrada e higienização dos alimentos. A mãe relata que mora em uma região mais afastada da cidade, sem ligação da rede de esgoto, mas que todos os dejetos eram despejados por um cano que saía pelos fundos da casa em um córrego próximo, como faziam os demais vizinhos. Relata que possui filtro de barro em casa para consumo de água e que higieniza as hortaliças apenas com água corrente. Relata ainda que no período de chuvas, as crianças aproveitam para se banhar nas ruas alagadiças pela enchente, pois gostam de brincar na água.
Baseado no relato da mãe, o médico solicita novo exame parasitológico de fezes (EPF), mas pelos métodos direto a fresco e método de centrífugo-flutuação em sulfato de zinco, além de exame sorológico pelo método de ELISA para detecção de anticorpos anti-Entamoeba histolytica e ultrassonografia hepática. O EPF pelos dois métodos foram negativos para enteroparasitos, mas a sorologia é fortemente positiva para anticorpos contra Entamoeba histolytica (E. histolytica) e o ultrassom evidencia um pequeno abscesso hepático. De acordo com o resultado, a criança foi tratada com metronidazol oral por 10 dias, apresentando melhora e alta médica após 30 dias de estabilidade.
A partir do relato de caso acima e dos conhecimentos teóricos da disciplina, RESPONDA:
1.1 De acordo com o relato, os sintomas e exames realizados, a criança apresentou amebíase extraintestinal? EXPLIQUE.
1.2 O EPF foi negativo para os métodos de sedimentação espontânea, direto a fresco e centrífugo-flutuação em sulfato de zinco, porém a sorologia foi fortemente positiva para anticorpos anti-E. histolytica. Considerando que os métodos foram realizados corretamente EXPLIQUE o que justifica essa ausência de formas parasitárias nas fezes, mas presença de anticorpos no sangue?
1.3 Para encontro dos trofozoítos de E. histolytica uma amostra diarreica deve ser avaliada em quanto tempo após a emissão? EXPLIQUE.
1.4 Neste caso a amebíase extraintestinal atingiu qual órgão? JUSTIFIQUE sua resposta com base nos exames laboratoriais e sintomatologia.
1.5 DEFINA qual a provável fonte de contaminação parasitária nessa criança e sua forma evolutiva? CITE pelo menos dois métodos de prevenção que devem ser repassadas à mãe para evitar reinfecções ou exposições a outras doenças infecciosas.